room service – catarina carreiras.

room service – catarina carreiras.

2012.08.13










Com apenas 27 anos, esta cascalense de gema é consultora no departamento de design da Fabrica Features, o centro de pesquisa e comunicação da Benetton, em Treviso.

Catarina Carreiras é daqueles exemplos inspiradores, cheios de talento e com um sentido estético invejável. Acriatividade corre-lhe no sangue. As artes sempre foram o seu mundo. O Design de Comunicação a área pela qual se apaixonou. Divide a vida entre Cascais e a cidade italiana, tendo trabalhado ainda um ano em Nova Iorque. Os objetos (e as suas histórias) são uma das grandes paixões de Catarina e, por essa razão, foi muito fácil perdermo-nos no seu quarto, tão luminoso quanto inspirador. Tal como ela.

Sempre soubeste que querias seguir Design?

Foi fácil saber. A minha mãe é arquiteta e eu toda a vida andei metida nesse mundo. Ela puxava muito por nós. Pinturas e brincadeiras com plasticinas....lembro-me de ir para o atelier com ela, ajudar a cortar autocolantes.

Daí até à Faculdade de Belas Artes foi um salto, e até à Fabrica, outro, um pouco maior. Como surgiu esta oportunidade?
Ainda fui a algumas entrevistas em Portugal, mas a ideia era ir para fora e tinha muito claro na minha cabeça para onde queria ir - a Fabrica Features. Conhecia o trabalho deles desde pequena, de andar na Benetton e ver a revista Colors, etc. Candidatei-me e entrei. Desde aí nunca mais saí. Comecei como student e agora sou consultora, no departamento de design.

Com tantos objetos que tens no teu quarto, tens de contar-me a história de um ou outro...
Alguns dos mais especiais são a coleção de câmaras antigas, que eu e o Francisco (namorado) fomos comprando. Mas algumas eram do avô dele e todas têm uma história. Gosto imenso de fotografia. Não tenho jeito nenhum, mas gosto muito da ação de fazer uma fotografia. E faço muitos trabalhos de styling na Fabrica. Só que esta coleção foi criada mais pelos objetos em si, que acho que são muito bonitos.

Esse trabalho de styling é só com objetos, certo?
Sim! Gosto imenso de experimentar, tenho de fazer com objetos porque é geralmente o que eles precisam. Mas às vezes vou experimentando outras coisas.... não tenho é muito tempo. Se tirasse agora um Mestrado, fazia algo em fotografia para desenvolver esta parte de styling, que gosto imenso.

Mais algum objeto que queiras destacar?
Sim, outro que gosto muito e é meu: uma coleção de blocos de notas, que vai sair em Setembro. Foi a primeira vez que fiz algo que sinto que é mesmo "eu". É uma coleção de cadernos para um Museu de Arte e Design, na Bélgica, e inclui vários tamanhos de blocos, t-shirts...

Porque é que dizes que é tão "teu"?
Acho que define bem o meu estilo...bem, para um designer é sempre difícil a história do estilo - e eu até acho que é bom ter um estilo, embora sempre para se ir reinventando - e, portanto, esta foi a primeira vez que tive a certeza que isto era mesmo "eu" e que se olhasse para estes cadernos daqui a dez anos, iria continuar a gostar... é sempre este o meu trauma! Foi também a primeira vez que trabalhei com um produtor português, que é um senhor engraçadíssimo. A partir daí, tenho feito tudo com ele, porque, apesar de estar tanto tempo fora do país, acho importante produzir cá, cada vez mais. Temos preços ótimos e grande qualidade.

O que gostas mais no teu quarto?
Da luz! Gosto do facto de estar virado para o jardim e de acordar com as gaivotas. E adoro o armário e as portas...

Gostava também que me falasses da tua relação com o branco. Além do quarto, é uma constante em toda a casa...
O branco é uma mania que apanhei do Sam (Baron, diretor criativo da Fabrica). Eu não era nada de branco, aliás, na casa dos meus pais, as paredes do quarto eram verdes. Mas, agora, gosto imenso enquanto base, e, como trabalhar com objetos me fez ter outra sensibilidade com os objetos em si, canso-me com muita facilidade. Por isso, gosto de ter a base branca e ir mudando os pormenores, alterando-os de sítio... e também porque acho que o branco transmite serenidade e faz-me sentir em casa.

O que não dispensas no teu quarto? Almofadas e música! De resto sou muito flexível, até porque não posso ser esquisita (risos). Nunca fiz muito vida de quarto... é para dormir e vestir. Só que precisa de ter uma certa harmonia e de estar arrumado, porque hoje em dia a minha vida é tão caótica, que naquilo que posso controlar, tem de ser mesmo controlado!

Em que é que te inspiras para os teus trabalhos? Em tudo menos em design gráfico. Faço muita pesquisa, é constante. Tenho pastas super organizadas de pesquisas, imagens que encontro e gosto... cada vez que tenho um projeto ou quando estou bloqueada, recorro a essas pesquisas. Mas também tento encontrar muito dentro de mim própria. Preciso de ver alguma coisa, um livro, por exemplo, para me surgirem ideias. Escrevo muito também - desenhar, nem tanto; depois passo do bloco para o computador. Chegando aí, sou rápida. Sou incapaz de ficar uma semana a desenhar um objeto. É um processo criativo muito visual. E tento sempre que as coisas tenham uma história.

Qual o melhor conselho que já te deram?
O meu pai, sempre que eu saía de casa, dizia-me "porta-te mal" (risos). Mas dentro da educação que tive, muito regrada e disciplinada, esse conselho para mim funcionava bem. O Sam [Baron] é um poço de conselhos, é para mim como um mentor, e também sempre me disse para "fugir ao óbvio". É um conselho muito simples mas muito importante, porque estás sempre a desafiar-te.


© photography Sara Gomes
© text Carolina Almeida
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