room service – marija pavlovich.

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2011.04.20










A maquilhadora nasceu em Belgrado, na Sérvia, e vive em Portugal há dez anos.

Quando nos abriu a porta de sua casa, um mundo cheio de cor e boas energias nasceu diante dos nossos olhos.

Já estás há uma década em Portugal. Porque vieste para cá? Por puro acaso. Nunca cá tinha vindo, não sabia falar uma palavra de português, nada. Mas encantei-me logo. Quando cheguei, a ideia era ficar um ano, ou assim. Fiquei na casa de uma amiga alemã, no Bairro Alto, que tinha um jardim tropical maravilhoso. Sentia-me tão bem aqui...a sensação que tenho em Portugal é que estou de férias há anos. É muito especial. Não conhecia ninguém, tive de fazer amigos, criar carteira de clientes, aprender a falar o idioma...

Deve ter sido difícil... Não, de todo. É isso que estou a dizer. Foi uma coisa super natural. Depois encontrei esta casa e encantei-me completamente. Estou aqui há oito anos.

Dois anos depois de chegares a Lisboa encontraste esta casa maravilhosa?! Que sorte! Sim, é verdade. Foi quando estava a viver na casa dessa minha amiga, no Bairro Alto, que eu comecei a perceber este “estar” que Lisboa me proporcionava. Não é que uma pessoa não acabasse por perceber essa sensação, ma quando alguém lhe mostra chega lá muito mais rápido. As cores, a luz, o calor, o silêncio...

Curioso falares em silêncio. De facto, estou impressionada... Mas é só porque é Domingo. Amanhã já está aí o eléctrico a fazer barulho.

Fala-me um pouco do teu quarto. Antigamente o meu quarto era noutra divisão. Depois mudei para a actual. Gosto muito de mudar as coisas em casa. As cores, sobretudo. Antes do azul, as paredes do quarto eram de uma cor rosada.

A cor é realmente o elemento predominante... Mas também gosto de casas sem cor. Adoro espaços amplos, sem o pormenor do quartinho ou da janelinha. Como disse, gosto de mudar. E já mudei muito nesta casa!

És então uma mulher de mudanças...? Sim. Nós crescemos com as mudanças. Se me perguntares se mudaria de casa agora, diria que sim, por curiosidade. Mas tinha de ser para algo especial. Ou mudar-me para outro país...estou aberta à mudança. Acho que todos nós devemos estar. E também é preciso estarmos atentos aos sinais. O bom é quando algo te provoca um bem-estar constante...um ambiente ou um espaço. Esta casa a mim dá-me chão. Não tenho família em Portugal, só amigos. Óptimos amigos aliás.

Que é como dizer uma família. Tive muita sorte com as amizades que fiz cá, é verdade.

Regressando ao quarto...disseste-me há pouco que foste tu que o pintaste. Sim, claro. E o resto da casa também. Faço estas coisas de forma muito impulsiva. Tem de ser logo, naquele segundo. Sou capaz de sair agora para comprar tinta ou então misturar todas as que tenho em casa, mesmo que não sejam tinta de parede, e pinto. Com a roupa é igual. Corto uma peça de roupa cinco minutos antes de sair. Sou assim desde miúda. Bem, mas voltando ao quarto. Fui construindo-o aos poucos e tudo tem uma história. O tapete trouxe de Marrocos; apaixonei-me por ele. Ah! O quadro...significa bastante para mim. É de Louise Bourjois, que morreu infelizmente o ano passado. Comprei-o num momento muito particular da minha vida. A minha melhor amiga vive em Londres, vou lá imensas vezes, e vi o quadro numa exposição no Tate Modern. Todos nós temos tendência para nos acalmarmos com algum objecto ou mania e ficamos agarrados a ele porque passa a ter um significado. Toda a energia do quarto mudou com este quadro...

O efeito da tinta nas paredes deve ter ajudado... Pintei-as à mão com uma esponja. Queria criar de propósito tons mais claros e outros mais escuros, como o céu.

Que cor nunca utilizarias no quarto? O roxo. Não gosto nada daquele roxo eléctrico. Evito as cores escuras, prefiro as mais alegres.

O que significa o quarto para ti? Bem-estar. Passo muito tempo em casa, gosto de receber pessoas. E sou capaz de passar um dia inteiro na cama a ler, se for preciso. O quarto não é só para dormir, é um espaço de...de...

...conforto? Isso! Eu privilegio muito o conforto em toda a casa.

Fala-me da tua relação com a cor. Eu trabalho com cor e texturas, dois dos elementos mais importantes, porque além de maquilhadora também faço ilustrações, com aguarela e tinta da china. Adoro grandes contrastes, sempre gostei. Na maquilhagem também. Uma coisa que é suposto ser preta, tem de ser preta; não pode ser acizentada, ou acastanhada. Detesto cores “a-qualquer coisa”. Tem de ser forte, tem de se ver, não pode passar despercebida.

Mas ouvi dizer que tens o dom da maquilhagem natural, certo? Sim, sou a rainha da cara lavada (risos). É o que faço melhor.

© photography Sara Gomes
© text Carolina Almeida
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