room service – diana bastos.

room service – diana bastos.

2010.12.22










A pesquisadora de imagem gosta de preto. É essa a cor que domina o seu quarto.

Os móveis são pretos, a colcha é preta, o perfume é preto, o vaso da planta é preto. Até a Maria tem o pêlo preto. Mas Diana, que nos fala de vestido negro, gosta tanto de preto como de branco e é a preto e branco que constrói a sua firme personalidade.

É decidida e prendada nas artes manuais. Neste seu espaço tão próprio, praticamente tudo tem dedo seu. A cómoda, os candeeiros, os cortinados...foram todos personalizados à medida da sua criatividade. Licenciada em Design de Moda pela Faculdade de Arquitectura, a decoração é outro dos mundos que a apaixona. Mas o brilho nos olhos surge quando falamos em revistas, sobretudo de moda. Diana sonhava um dia trabalhar na Vogue. E conseguiu. Passou por lá (cá!) como estagiária, durante seis intensos meses, até encontrar o seu lugar numa revista irmã, a Máxima, no departamento de pesquisa de imagem. “Estou a seguir um caminho completamente diferente na minha vida, e acho que é mesmo por aí”, diz. No que nos toca a nós, é por aqui mesmo!

No teu quarto não dispensas...Um livro. Adoro ler.

O que estás a ler neste momento? Agora não estou a ler nada, mas posso dizer-te o livro que acabei há pouco tempo – A Insustentável Leveza do Ser. Nesta fase da minha vida, foi daqueles livros que me marcaram mesmo, com coincidências de momentos...sabes?

Sim. Parece que se o lêssemos em qualquer outra altura, seria completamente diferente... E sabes aquela sensação de veres um filme ou leres um livro pela primeira vez? Eu agora gostava de apagá-lo da memória e lê-lo outra vez pela primeira vez.

Pois é! E quanto a revistas, no quarto não tens nenhuma, mas na sala há muitas. No quarto não costumo ter, porque não é tão prático. De vez em quando, sento-me na cama a folhear uma, mas gosto de ver revistas sentada numa mesa. Se não fosse isso, tenho a certeza que o meu quarto estava cheio de revistas!

Já percebi que és fã, como eu. Mas, explica-me, nunca quiseste mesmo seguir a profissão de designer de moda? Não, isso eu sabia que não queria ser. Adorava revistas, eram elas a minha grande paixão. Era uma questão que já estava bem definida. E o meu grande sonho era realmente trabalhar na Vogue. Lembro-me quando lia a Vogue dizia sempre: “um dia vou estar aqui”.

E não estavas a mentir! Quais são as tuas revistas de eleição? O meu grande culto é a Vogue Paris, desde sempre. Agora também a A-D, que descobri quando estava a trabalhar na Vogue, e a Wallpaper, que já conheço desde a infância, porque a minha mãe é assinante.

A tua mãe é fã da Walpaper? Que giro! Sim, foi ela que me pegou este gosto e me educou nas revistas de moda, decoração, etc...

Também gostas muito da área de decoração, certo? Adoro! E se pudesse dedicar-me a isso da vida, também o faria.

Sei que alguns dos móveis do teu quarto são personalizados por ti. Conta-nos tudo! Sim, é verdade. A cómoda, por exemplo. Fiz uma ligeira transformação no design, pintei-a e mudei-lhe os puxadores. Os candeeiros da mesa de cabeceira construí a partir de jarras e os cortinados também são da minha autoria.

Uau! Eu era incapaz...ou talvez sim, mas nunca ficariam apresentáveis. Gostas mesmo destes trabalhos manuais ou também alias o gosto à necessidade? Quando não tens dinheiro para comprar o que queres realmente, mas tens a oportunidade de conceber exactamente aquilo que mais gostas, é fantástico. Quando vim para esta casa, tinha tudo desenhado – a sala, o quarto, a cozinha. Sabia muito bem o que queria...

Então foi mesmo tudo pensado por ti, ao pormenor. Sim, porque a casa é muito pequena e a única maneira de conseguir criar um espaço harmonioso, era que fosse tudo pensado previamente. Sobretudo o quarto...

O que é que o quarto representa para ti, enquanto divisão? É o espaço de relaxamento, o sítio onde me sinto melhor. É a divisão onde sou realmente eu. Só eu. E é também o sítio onde mais penso. Para mim, o quarto é 'o' quarto.

E qual a razão da escolha do preto, que é a cor dominante? Adoro móveis pretos, e brancos também. Mas a opção do preto recaiu sobretudo pelo facto de ter uma cadela preta, a Maria. Foi uma escolha tanto de gosto como de necessidade...

Existe para ti uma cor proibitiva nos quartos? Quando era adolescente, tive uma fase das cores. Também porque sou fascinada pela Índia – ainda hoje! - e, apesar de não transportar essa paixão directamente para a decoração, inspiro-me imenso na cultura indiana e Oriental. Mas continuando... uma dessas fases foi a do vermelho. Tinha tudo dessa cor: a colcha, os cortinados...enfim, não funcionou de todo. Por isso, acho que o vermelho é uma cor proibitiva para os quartos, quando utilizada em excesso. É uma questão de bem-estar. E por falar nisso, penso que o mais importante é fazer a cama. Para te sentires bem no quarto, tens de ter a cama feita!

Concordo! Adoro a exposição de tantos detalhes no teu quarto...Sabes que eu adorava ser daquelas pessoas que não têm nada. Mas é impossível. Preciso de ter os meus anéis, pulseiras, colares, sapatos, tudo à vista. Senão não consigo viver, sobretudo de manhã!

Além da Índia, onde vais buscar inspiração? Hum...não é algo pensado. Pego em tudo aquilo que vou absorvendo e, inconscientemente, funciona como inspiração.

E retiras muitas ideias de revistas? Sim, mas como vejo revistas todos os dias, não é um processo directo e consciente, é mais o resultado de tudo o que absorvemos. Conheço um site que é como uma bíblia – Apartment Therapy (http://www.apartmenttherapy.com). É fantástico! Tem um concurso onde mostram as casas mais pequenas que alguma vez imaginaste, com ideias geniais.

Boa! Tenho de ir espreitar. Conheço o site há há imenso tempo e tem-me ajudado muito. Usam muita cor, mas é óptimo para tirar ideias. É mesmo a minha onda.

E como recordas o teu quarto de criança? Consegues descrevê-lo? Acho que os móveis eram todos Altamira, que era muito conhecida na época. O quarto era estranhíssimo, muito design para a altura...a minha mãe era muito à frente...

Curioso... cada vez que faço esta pergunta, a palavra “estranho” surge sempre nas respostas....(risos) Lembro-me que a minha cama era em ferro vermelho, com umas pequenas grades e a secretária era em madeira, com uns puxadores em ferro vermelho...acho que era mesmo muito à frente!

Qual o objecto mais especial para ti no quarto? Provavelmente os candeeiros, que foram feitos por mim. É que os candeeiros são peças caríssimas, quando procuras comprar algo mesmo bonito, por isso a decisão de os fazer foi mesmo por necessidade. Não sabia como havia de comprar candeeiros bonitos, mas tinha uma ideia bem clara do que queria. Então comprei umas jarras baratinhas na Área, furei-as, comprei os abajures, coloquei as lâmpadas...

Dito assim até parece fácil! Mas foi fácil. Nós às vezes é que complicamos.

Onde costumas encontrar esses achados, além da Área? Hum...gosto de procurar na Feira da Ladra. Tenho andado por lá a tentar encontrar um candeeiro para a sala, mas até agora nada. Tenho comprado, sim, bijuteria.

Por falar em bijuteria (e olhando para estas recheadas gavetas), queres confessar-me o que coleccionas? Sim, bijuteria! Anéis, pulseiras e correntes.

Onde costumas comprar? Há um tempo andei viciada no eBay. Também compro na Feira da Ladra, como disse há pouco...ah! e no Martim Moniz. É o meu grande achado. Adoro ir até lá ao Sábado e comprar bijuterias baratas que só uso uma vez (risos), e chás, e dim sums...sou viciada!

Desculpa, não percebi bem...dim... Dim sums. São bolinhos chineses com pasta de feijão ou carne, cozidos a vapor, que funcionam como brunchs na China.

Nhami! Ah! Além de bijuteria, é preciso dizer que também sou louca por malas e sapatos. Acho que qualquer mulher, não é? Ainda para mais neste mundo das revistas de moda...

Pois, queria perguntar-te como é que fazes para te controlar, tendo acesso a tantas marcas...Aprendi a lidar com isso com a minha mãe. Como disse há pouco, ela sempre foi uma grande consumidora de revistas. Algo que aprendi desde cedo foi que não se pode ter tudo. E a verdade é que, lidar com isso, não foi uma grande novidade para mim quando vim para esta área. Claro que às vezes é difícil, quando nos passam tantas malas Prada pelas mãos! Mas hoje em dia também temos a Zara, e a criatividade!

Quem é o teu fashion icon? Emmanuelle Alt. Claro que depois também há as gémeas Olsen, que têm umas fases mais engraçadas do que outras. Julgo que elas são um bom exemplo do que dizia há pouco, porque sendo das miúdas mais ricas dos EUA, ainda assim, conseguem ser criativas e não usar só marcas mais caras. Também adoro a Zoe Kravitz...e agora ficávamos aqui o dia todo. A Emmanuelle Alt é o meu mais antigo ícone, que vai ficando sempre....

© photography Sara Gomes
© text Carolina Almeida
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